Especial: Reforma Protestante

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Dia 31 de outubro é celebrado o Dia da Reforma Protestante. Conteúdo de aulas de historias, a reforma trouxe reflexos e consequências para as igrejas evangélicas que perpetuam até hoje. O ToNoGospel procurou o professor graduado em filosofia e teologia e mestre em Filosofia,  Victor Hugo de Oliveira Marques, para relembrar fatos marcantes deste período.

 

Pré- reforma

A Reforma Protestante foi um movimento social, político e religioso em uma época onde poder político e igreja andavam juntos e o que era considerado cristandade era representado pela Igreja Católica Apostólica Romana. Nos séculos XIV e XV já havia manifestos e contestações á forma de governo que culminaram na reforma propriamente dita. A Igreja Católica contava com uma estrutura hierárquica ligada ao poder e usava da religião para justificar sua influência política, desagradando teólogos e pensadores da época. Muitas das contestações nasceram em universidades da Europa. Entre os principais líderes desta época estão John Wycliffe, Jan Huss e Jerônimo de Praga, pré- reformadores.

As ideias desses teólogos e pensadores sobre questionamentos da igreja começam a ser propagas por toda Europa. Neste cenário surgem Martinho Lutero e João Calvino. “A Reforma foi esse movimento de contestação de algumas ideias política, religiosas e sociais de práticas que a Igreja Católica vinha fazendo durante todo o poder do Papado”, resume o professor.

 

Lutero e Calvino

Esses são os nomes mais lembrados da reforma e para isso há uma justificativa. Martinho Lutero propõe uma reforma dentro da Igreja Católica, mas permaneceu próximo á instituição. O movimento luterano expandiu-se rapidamente pela Alemanha e outras partes da Europa, tornando-o o primeiro reformador e servindo de referência na época. Tanto que era considerada a única opção de protestantismo na Europa. Entre os pontos do movimento estava a forte crítica pelo pagamento das chamadas indulgências. Para serem perdoados os pecados era preciso pagar.  Em 31 de outubro de 1517, Lutero prega as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante.

Calvino, por sua vez, pregava um novo modelo de igreja e uma ruptura radical com a cúria romana da Igreja Católica. João Calvino foi o sistematizador no aspecto teológico e de governo da Igreja Protestante, apostando em 4 figuras dentro da nova igreja: pastor, doutor, presbítero e diácono. “Talvez por isso então que Lutero como sendo grande precursor e Calvino sendo o grande sistematizador da Reforma, eles são os mais conhecidos”, pontua Victor Hugo.

Porém, um terceiro nome é apontado pelo filósofo de suma importância para reforma: Ulrico Zuínglio. Ele foi o responsável para dar abertura ás ideias Calvino em grande parte das igrejas reformadas da Europa como França e Inglaterra. Propostas essas que vieram a incentivar movimentos menores dando origem aos batistas e prebisterianismo.

Entre os pilares da Reforma existem cinco que podem ser destacados que marcaram o movimento:

1) Somente a Escritura – Sola Scriptura
2) Somente a Graça- Sola Gratia
3) Somente a Fé- Sola Fide
4) Somente Cristo- Sola Christus
5) Glória somente a Deus- Soli Deo Gloria

 

Consequências

Mesmo após 497 anos, as consequências da Reforma têm reflexos em diversas igrejas até hoje.  “Todas as igrejas evangélicas tem princípios luteranos e calvinistas muito claros”, destaca o professor Victor Hugo. Como forma de exemplo, ele cita três pilares teológicos da reforma que sustentam grande parte das igrejas nos dias atuais.

 

1-Princípio da Autoridade Bíblica-  A Bíblia é a autoridade máxima onde não existe nenhuma autoridade acima dela. Além disso, todos podem ter liberdade e acesso  para interpretá-la, tese defendida por Lutero e Calvino. Tudo o que se vai ser fazer na igreja se recorre á Palavra de Deus.

2- A justificação dos pecados vem pela fé e pela graça- O parâmetro da Reforma, sustentado por Lutero é aceitar o “Cristo que me salva pela minha fé, eu aceito, tenho fé em Jesus Cristo e esse Cristo então me salva e me resgata” como base da genuína conversão, onde as obras e ações meritórias – como caridade e penitências, comuns na época da Idade Média-, não tem mais valor quanto a ideia de Jesus como Salvador, por que é graça e dom que vem de Deus.

3- Sacerdócio Universal- todos os membros da igreja são sacerdotes pelo Batismo. A teologia católica afirma isso, mas não com tanta ênfase. Todos os batizados, membros e pertencentes ás igrejas são sacerdotes e tem acesso a Deus. Na velha teologia somente o padre seria o mediador entre Deus e os homens o protestantismo abre o céu onde coloca na mão de todos os leigos e membros a possibilidade de encontrar a Deus e interpretar a Bíblia.

Nesse contexto aparece com maior diferença entre as teologias a figura do pastor. O padre era considerado mediador entre Deus e os homens. Já o pastor serve como dirigente do culto, com a missão de facilitar a administrar a ordem do culto para que todos tenham acesso a Deus, além de expor a Palavra e fazer com que as pessoas tenham acesso a essa Palavra.

 

Infelizmente, nem sempre todas as igrejas reconhecem a força dessa herança teológica.  “Sobretudo as igrejas muito novas que não tem essa preocupação talvez, de recuperar a sua historia, recuperar a historia do protestantismo e ver que elas na verdade são continuadoras desse movimento. Enquanto que na cristandade você tinha muito forte o ‘romanismo’, ou seja, praticamente você tinha que ser um romano para ser cristão, o protestantismo abriu as portas do cristianismo. Ele é o que é, ele é forte, ele é grande, graças a essa abertura (…) pena que nem sempre as igrejas evangélicas atuais tenham essa consciência de que elas são pertencentes e continuadoras da constante reforma que o cristianismo precisa passar sempre”, finaliza.

 

Victor Hugo de Oliveira Marques é graduado em filosofia e teologia e mestre em filosofia e leciona na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) na Faculdade Theológica (Fathel), em Campo Grande.