Por que algumas pessoas chegam ao ponto de cometer um ato tão extremo como o suicídio? Quem tira a própria vida faz isso consciente de seu ato? Um cristão pode contemplar o seu fim pelas próprias mãos? Como reconhecer os sinais e prevenir o suicídio?
Esses questionamentos povoam a mente de quem não consegue entender, ou pelo menos imaginar, o que há no coração, no corpo e na alma de quem está passando por um sofrimento psíquico tão intenso que não consegue pedir ajuda ou falar com alguém sobre isso.
É por essa razão que todo ano uma grande campanha de prevenção ao suicídio é lançada no mês de setembro. Em 2023, o tema escolhido é “Se precisar, peça ajuda”. Focados nessa temática, autoridades governamentais, médicos psiquiatras, psicólogos, igrejas e outras organizações sociais lutam para estancar o aumento de suicídios no Brasil, que cresceu 11,8% em 2022, se comparado com 2021, conforme indica o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Eles entendem que para vencer essa batalha é preciso uma ação conjunta e ininterrupta.
O pastor batista Fábio Santos Bahiense Moreira, atualmente é professor na universidade Campbellsville University, onde lecciona para alunos de Teologia e outros cursos. Sua história é uma grande contribuição para essa causa, por ele ter experimentado pessoalmente a depressão, a síndrome do pânico, o burnout e o desejo de desistir da vida como uma saída para sua dor.
Entretanto, após vencer essa guerra, Fábio investiu numa pesquisa profunda e descobriu que há uma outra luta a vencer: o tabu de que crente não adoece emocionalmente, não pensa em se matar, ainda que creia em sua salvação em Jesus Cristo.
“Isso acontece porque a pessoa está doente, está em desequilíbrio emocional, e não porque não tenha fé em Deus. A doença emocional atinge o ser humano de forma global, como um todo, e isso não é reservado apenas aos que não conhecem a Cristo, mas também ocorre no meio cristão. Pensar que pastores e líderes cristãos estão livres de ter esses problemas é ser muito ingênuo, porque é, sim, uma realidade. Inclusive, observo que há muitos pastores sofrendo emocionalmente, e isso tanto nas igrejas brasileiras quanto norte-americanas, pois já pastoreei nos dois países por muitos anos. Onde houver pessoas haverá esgotamento emocional e espiritual. Então, ter uma campanha massiva em um mês faz diferença, porque é um período dedicado coletivamente ao problema e à busca de soluções.”
Para salvar uma vida
A psicóloga especialista em terapia cognitiv- comportamental Rosiane Amaral, de Vitória (ES), aponta o caminho para cada um contribuir para evitar o suicídio e salvar uma vida.
Quais são os sinais que indicam que uma pessoa está idealizando o suicídio?
É importante observar sinais de isolamento ou mudança na rotina diária, porque normalmente essa pessoa está passando por um sofrimento psíquico muito forte e não consegue pedir ajuda ou falar com alguém sobre isso. Ela mostra mudanças nas suas relações sociais, perde o interesse ou não consegue mais interagir.
A pessoa que está prestes a se matar está consciente do que está fazendo?
Sim, a pessoa está consciente. Porém, em sofrimento e forte dor emocional. Na verdade, ela pretende parar de sentir aquela dor, e não necessariamente morrer.
O que não se deve dizer a alguém que está desistindo da própria vida?
Sempre que um familiar ou amigo percebe qualquer sofrimento emocional, deve evitar comentários de invalidação daquela dor, com frases como “Você precisa esquecer isso, vai passar”; “Isso é falta de Deus. Basta orar que melhora”; ou ainda “Você tem tudo, não devia falar essas coisas”.
Suicídio é resultado de transtorno mental ou qualquer pessoa é sujeita a isso?
A maioria dessas pessoas está passando por um quadro de depressão ou outro transtorno mental. Ela precisa ser encaminhada para acompanhamento com psiquiatra, que fará o tratamento com medicamentos, e com o psicólogo, que entra com a terapia. O apoio de familiares e amigos também é fundamental nesse processo.
Na sua visão, qual é o papel da família, da igreja e do Estado nessa luta?
A família é uma rede de apoio muito importante, que pode ajudar a pessoa a buscar por um tratamento especializado com profissionais da saúde mental. A igreja pode ajudar com a identificação do problema e trabalhar o processo de aconselhamento. Ao observar o isolamento, as mudanças na rotina de participação nas atividades da igreja e da vida secular, perceber que isso pode ser um grande sinal de que a pessoa está sofrendo. A igreja também tem um papel importante em orientar, sempre que necessário, a busca por um tratamento especializado, além de acolher sem julgar, mas sim com presença e afeto. Já o Estado vai atuar na divulgação e conscientização sobre o problema, por meio de campanhas que orientem as pessoas sobre temas relacionados aos transtornos mentais e ao suicídio.
Qual a sua opinião sobre a importância da fé na prevenção ao suicídio?
A fé pode ser um dos pilares da saúde mental. Mesmo quando diagnosticados com algum transtorno mental ou com ideação suicida, os crentes podem aderir ao tratamento e continuar usando sua base religiosa como um dos fatores importantes de fortalecimento durante o tratamento.
Da redação