“Peço às mulheres da igreja que saíam dessa vida o quanto antes para não pararem aqui na cadeia como eu” dispara Flordelis durante entrevista.

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Foto: Alexandre Cassiano/Ag. O Globo/. 
 
 
Seis meses após o julgamento, Flordelis, a Pastora condenada a 50 anos de prisão pelo assassianto do marido, o Pastor Anderson do carmo, respondeu pela primeira vez questionamentos sobre sua vida na prisão, carreira na música gospel e política. A entrevista foi concedida ao jornalista Ullisses Campbell, o mesmo que escreveu o livro A pastora do diabo, contando detalhes da vida da ex-parlamentar.
 
Flordelis aproveitou a entrevista para mandar um recado às mulheres  “Peço às mulheres da igreja que saíam dessa vida o quanto antes para não pararem aqui na cadeia como eu” o trecho faz referência a uma pergunta em que a cantora cita erros cometidos no passado.
 
Flordelis está presa na penitenciaria Talavera Bruce no estado do Rio de Janeiro, A pastora divide com outras seis detentas uma cela de 10 metros quadrados. Há poucas semanas, a ex-deputada conseguiu na justiça o direito de retirar o sobrenome de Anderson do carmo, com a retificação para o nome de solteira. O pedido foi aceito pelo juiz André Souza Brito.
 
Confira na íntegra as perguntas e respostas disponibilizadas pelo escritor no instagram:
 
01 – Como a senhora reagiu à sentença de meio século de cadeia?
 
Meu corpo estava no tribunal no dia do veredito. Mas, a minha alma ficou encolhida na cadeia. Senti o peso da condenação. Foi muito duro enfrentar tudo aquilo. Quando ouvi a sentença de 50 anos, um buraco se abriu sob meus pés. No entanto, a absolvição da Marzy, Rayane e André Luiz me mostrou que posso ter um novo julgamento. Hoje, a minha esperança de ser inocentada vem da confiança que tenho nos meus advogados @janirarocha.adv e @rodrigofaucz – os mesmos que conseguiram inocentar os meus filhos.
 
02 – Como a senhora leva a vida na prisão?
 
Como sou inocente, vivo na força da fé. Creio que os planos de Deus para mim ainda sejam diferentes do destino que os homens traçaram. Oro todos os dias para sair daqui.
 
03 – Quais os seus planos?
 
Vou sair daqui em breve. Em liberdade, vou olhar para dentro de mim e consertar todos os erros que cometi na vida e na igreja.
 
04 – Que erros são esses?
 
O maior deles foi ter entregue a minha vida ao meu marido. No casamento, me calei e me anulei para tudo. O evangelho no qual fui criada me colocou como apêndice do pastor Anderson. Esse evangelho dava a ele permissão para controlar a minha vida, me violentar e me agredir permanentemente. Esse evangelho não me serve mais. Peço às mulheres da igreja que saíam dessa vida o quanto antes para não pararem aqui na cadeia como eu.
 
05 – Por que não confessa logo que mandou matar o seu marido para – quem sabe – ter uma pena menor num possível novo julgamento?
 
Jamais confessarei o que não fiz! Não matei o Anderson do Carmo! Nem mandei matá-lo! Prefiro ficar na prisão por 50 anos sendo inocente do que bem menos tempo confessando o que não fiz.
 
06 – O que a senhora anda fazendo na cadeia?
 
Canto todos os dias para as outras presas ouvirem. Lavo as minhas roupas sujas e as roupas das outras detentas. Também faço exercícios físicos pulando corda.
 
07 – Quem lhe faz visitas? Seu namorado já apareceu por aí?
 
Não vou falar sobre isso porque a imprensa só tripudia. Não quero prejudicar quem vem me visitar. Deixem essas pessoas em paz!
 
08 – O que a senhora comeu hoje?
 
Nunca fui muito de comer. Hoje pela manhã tomei café com pão e margarina. Às vezes, dou as minhas refeições para outras presas.
 
09 – A senhora sempre foi vaidosa. Como se manter bela na cadeia?
 
Quando tinha compromissos profissionais, eu era tão pressionada a usar peruca e fazer botox que me tornei escrava da beleza. Era um sofrimento sem fim. Sou uma mulher preta. Antes, meu cabelo era disfarçado porque tentavam me embranquecer. Na penitenciária, isso acabou. Graça a Deus! Não estou largada. Mas tudo é mais simples e leve. Hoje, sou uma mulher presa, mas meu cabelo é livre. [Nesse momento, Flordelis sorriu]
 
10 – A senhora tem 62 anos e foi condenada a 50. Tem medo de morrer na prisão?
 
Hoje esse medo é real porque estou com arritmia. Já tive várias crises e fui parar na emergência do Complexo de Bangu com problemas sérios no coração. Esse medo aumentou porque os médicos disseram que não têm os recursos necessários para me atender aqui dentro.
 
11 – O que a senhora sente pelo pastor Anderson?
 
Antes, alternava sentimentos de saudades e ódio. Recentemente, entrei na Justiça para tirar o nome (Souza) dele do meu. Hoje reconheço todos os males que ele fez a mim, às minhas filhas, às minhas netas, destruindo toda a minha família.