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O sentimento patriótico tomou conta do Brasil na última quarta-feira (2). As manifestações pacíficas dos brasileiros que lotaram as principais capitais com bandeiras do Brasil, execução do hino nacional, orações e grande presença popular, evidenciaram a não aceitação dos resultados eleitorais após o segundo turno do pleito presidencial que se encerrou no último domingo (30).
Multidões em frente aos quartéis, nas praças e avenidas das principais capitais do país e a paralisação dos caminhoneiros chamaram a atenção do mundo. Diante dos últimos acontecimentos, qual a linha divisória entre o dever cívico e o dever cristão? Entre o patriotismo e o testemunho bíblico? Até que ponto a Igreja deve se levantar contra o que acredita estar fora dos seus princípios? Em que momento ela deve recuar e se submeter às autoridades?
O presidente Jair Bolsonaro acabou publicando um vídeo em seu Facebook, na noite do mesmo dia, em que pede que seus apoiadores desobstruam as rodovias que estão ocupando por todo o país. O chefe do Executivo disse que entende a frustração dos manifestantes. “Sei que vocês estão chateados, estão tristes, esperavam outra coisa. Eu também. Mas nós temos que ter a cabeça no lugar”, afirmou. Bolsonaro disse que a obstrução de rodovias prejudica o direito de ir e vir da população e disse que não se pode “perder a legitimidade”.
Igreja Batista: “Deus não erra”
“O período eleitoral que terminou no dia 30/10 foi o mais belicoso que se tem notícia na história no Brasil”, afirma o pastor batista Joarês Mendes de Freitas, de Vitória-ES. Segundo ele, o país chegou ao pleito literalmente rachado, dividido em dois blocos radicalizados e o resultado das urnas acirrou ainda mais os ânimos e está gerando uma avalanche de suposições do que pode ou não acontecer nos próximos dias.”
“Pelo lado dos que foram vencidos, muitos estão tristes, frustrados e até revoltados, o que é compreensível. No entanto, se você é cristão, há um fator que não pode ser esquecido – Deus não erra no que faz ou permite acontecer. Coisas boas podem advir de algo que consideramos ruins. Por causa do caráter de Deus e independente dos atores, devemos esperar sempre o melhor, nunca o pior. Se não cremos na transformação das pessoas e na mudança de cenários então o nosso evangelho é inútil.”
Homens improváveis
“No decorrer da história, Deus usou homens ímpios e pessoas improváveis para abençoar o seu povo e sabemos que pode fazer isso ainda hoje. Portanto, circunstâncias à parte, é necessário evitar a vitimização, olhar para cima, lembrar que há um Deus e esperar o melhor.
A verdadeira igreja nunca dependeu das decisões políticas e é seu dever confrontar qualquer ideologia que se mostre antibíblica. A igreja precisa estar ao lado da verdade, sejam quais forem os seus defensores. Isso é o mínimo que se espera dela”, afirmou o pastor.
Igreja Maranata: “Propósito de Deus”
O pastor, escritor e secretário executivo da Igreja Cristã Maranata (ICM) no Brasil, Luiz Eugênio Santos, lembra que toda autoridade é colocada por Deus para um propósito e cita o texto bíblico de Romanos 13:1,2.
“Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos.”
Igreja Lagoinha: “Houve exageros”
O publicitário, Jornalista e gestor da Igreja Lagoinha, no Rio de Janeiro, Maurício Soares, entende que a Igreja evangélica é um “segmento que representa mais de 30% da população brasileira e precisa ser ouvida, observada e consultada sobre questões políticas.
Acho que houve exageros neste primeiro momento de ambas as partes, daqueles que acham importante a igreja se inserir e daqueles que são contra esse envolvimento. Também penso que cada vez mais o segmento terá papel de destaque na política. Não creio que a esquerda tenha provocado isso na Igreja, mas suas bandeiras antagônicas ao conceito cristão acabaram polarizando o ambiente. A mobilização no Rio de Janeiro está grande, mas as informações estão sendo escondidas pelas mídias.”
Assembleia de Deus: “cidadania cívica”
Na visão do advogado e pastor da Igreja Assembleia de Deus, Romerito da Encarnação, “As circunstâncias (eleição) são passageiras e não definem o ânimo daqueles que creem; a Igreja se evidencia pela dupla acepção cidadã, a saber: a cidadania celestial e a cidadania cívica. Enquanto na primeira prevalece a inalterabilidade da escolha soberana e divina no curso da história, na segunda Deus sugere que a manifestação da vontade da sociedade seja acompanhada de sensatez, consciência e responsabilidade. Quando os justos governam o povo se alegra, mas quando o ímpio domina o povo geme (Pv.29:2).”
A voz da Igreja
Romerito que também é presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política no Espírito Santo (FENASP/ES), percebe que as pautas ideológicas da esquerda por muito tempo foram voz uníssona na sociedade sem qualquer resistência. “Os ativistas revolucionários detinham o monopólio da opinião no debate público e implantavam sua medíocre visão de sociedade sem se quer permitir espaço para o contraponto dos conservadores.
“A voz da igreja no debate público surge nesse contexto de empobrecimento cognitivo da sociedade, declínio intelectual da classe pensante e total ausência de contraponto aos ideais revolucionárias da esquerda socialista utópica que capturou as instituições de ensino e de estado há décadas nos Brasil, esses espaços universitários e da própria imprensa fracassaram negligenciando o contraditório e sucumbindo à predominância ateístas, marxistas sob a ótica intelectual falida de uma visão de mundo antropocêntrica, racionalista e cientificista distanciada da espiritualidade, o que provocou a entrada do pensamento conservador no debate público.”
Mau testemunho?
“Primeiramente é importante salientar que apontar inconsistências no processo eleitoral em especial pela disparidade de procedimentos, inserções e ausência do princípio constitucional da paridade de armas e tratamento equidistante entre as campanhas verificado na conduta do órgão julgador é exercício do direito e análise de um fato típico e legítimo da cidadania, portanto não configura pecado nem qualquer conotação de mau testemunho.”, afirma o advogado.
Legítimo direito
As manifestações, sendo ordeiras e pacíficas é um legítimo direito garantido na Constituição Federal como um pilar da democracia, podendo ser exercido em qualquer lugar do país, conforme dispõe abaixo:
Art. 5º, § IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Art. 5º, § XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
Logo caracterizar como exagero a atitude do cidadão que exerce um direito constitucional, continua o advogado, é reduzir o exercício de cidadania da sociedade que manifesta sua insatisfação com o modo de condução do processo eleitoral adotado pelo TSE, eventual colisão de direitos fundamentais devem ser analisado caso-a-caso a luz do próprio texto constitucional.
“Nesse sentido, considerando o posicionamento do Presidente que apesar de não se conformar com as injustiças do sistema que o perseguiu, demonstrou aceitar a eleição autorizando o Chefe da Casa Civil (Ciro Nogueira) fazer a transição, entendo que nesse momento o melhor caminho para sociedade é renovar as forças prosseguir a vida sem desistir do Brasil, a final à esperança da igreja é Cristo.”
Da redação