O perigo da militância política dentro da igreja

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Utilizar-se do cargo de liderança e do espaço religioso para dar visibilidade ao candidato de sua preferência, na disputa eleitoral, transita entre a falta de ética e a tirania. Em um primeiro momento, essa prática não é isenta e fere o direito de pensar dentro de um ambiente de poder. Em última instância pode se tornar opressora para a membresia de uma igreja forçada a votar em um nome simplesmente porque o líder congregacional consegue linkar o medo ao sagrado.

Afirmações espirituais como “Este é um homem (ou mulher) de Deus”. “Deus levantou este nome para nos representar na política, podem votar” ou “O povo de Deus precisa apoiar nossos irmãos candidatos”, só servem para doutrinar a congregação a seguir o pensamento de quem dita as regras e transformar o ambiente de fé em cativeiro político. Na contramão deste raciocínio, o apóstolo Paulo disse em Atos 24:16 “E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens”.

O tema “Para onde vão os evangélicos nas eleições de 2022?” foi fruto de uma conversa no quadro “Papo de Colunistas” de uma Rede de Comunicação de Vitória-ES, em que jornalistas conversaram com o pastor Usiel Carneiro, especialista em gestão. Segundo ele o que o povo evangélico pretendeu nos seus primeiros passos na política, se perdeu. “A proposta era a política como ciência e serviço social, isso é o que deve ser ensinado em ambiente religioso porque levar candidato à frente da igreja para ser votado é um desserviço à democracia”, analisa.

Usiel entende que quando nos posicionamos politicamente somente em anos de eleição criamos a mentalidade de que aquele candidato apresentando à igreja na hora do culto, se destaca e está apto a ganhar votos.

O papel do pastor ou líder religioso é politizar e ensinar o fiel a pensar, a conhecer os trâmites de um projeto de lei, por exemplo, e até ter entre eles pessoas com perspectivas políticas diferentes. A igreja precisa produzir consciência política antes de se pretender indicar qualquer candidato usando termos como “é a vontade de Deus” ou fazendo uma ameaça velada.

“Quando uma pessoa sente medo ela não raciocina, não pensa. A história mostra que a igreja sofreu e lutou muito no mundo inteiro para conseguir sua liberdade, seus direitos. Como que agora vai querer supremacia diante dos outros grupos?”, questiona o pastor.

Os evangélicos são uma massa diversa com vários grupos. Há uma pluralidade dentro dos grupos evangélicos com perspectivas sociais, religiosas e políticas diferentes. E mesmo dentro de um grupo que apoia determinada corrente política é provável que haja quem pense diferente. Há de ser concluir, portanto, que uma relação mais ética passa pelo respeito e reconhecimento da importância da política para religião e vice-versa, mas sem troca de favores, apadrinhamentos e falsas promessas, para não envergonhar a igreja de Cristo por causa de homens desonestos. “Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência (1 Ti 4:2).

 

Com informações Revista Comunhão