“Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus…Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação”. 1 Cor 1:18;21.
Servir em campo transcultural é um desafio, uma aventura, e por que não dizer; uma loucura…
Saímos do Brasil em 2010, com duas crianças bem pequenas (João Pedro com 2 anos e Asafe com 6 meses). Deixamos um trabalho bem remunerado, a igreja que pastoreávamos, a possibilidade de educar nossos filhos próximo aos familiares.
Família Petrelli – Foto: Arquivo Pessoal
Seguimos nesta jornada constrangidos pelo anseio de atender o que Deus havia plantado em nossos corações; o desejo e a convicção de servi-lo na África.
Uma jornada difícil, principalmente no começo, pois seria a nossa primeira vez fora do Brasil. Não conhecíamos nada, éramos jovens, imaturos… Contudo, cheios de vontade de agradar a Deus e muita disposição para obedecer. E assim, Deus foi nos capacitando, enviando socorro e nos moldando passo a passo.
Nosso primeiro ano foi na África do Sul, para o aprendizado do Inglês. Depois seguimos para Madagascar, onde servimos por quase 6 anos. E então viemos para Uganda, onde atualmente servimos há quase 4 anos.
Pensar sobre nossa história, me emociona. Me faz reviver a fidelidade imutável de nosso Senhor, à nós revelada dia após dia durante estes 10 anos. Olhar para trás também me faz lembrar dos tantos desafios, dores e lutas…, e das múltiplas oportunidades de aprendizado. Me convinda à gratidão, por tantos privilégios e frutos do trabalho que o Senhor nos concedeu.
Apesar dos desafios, eu jamais voltaria atrás em nossa decisão de servir ao Senhor aqui na África. Talvez uma das coisas que eu faria diferente: teria vindo para o campo alguns anos antes, antes de ter os filhos. Assim, quando os filhos nascessem, nós já estaríamos melhor adaptados e o processo para as crianças seria mais tranquilo (baseados em nossa experiência e na de outros colegas também).
Louvamos a Deus pela oportunidade de chegarmos a povos antes nunca alcançados pelo evangelho, pela alegria de servir aos africanos e missionários expatriados. Exaltamos ao Senhor pelo ministério que Ele tem nos confiado e pelos parceiros que caminham esta jornada conosco.
Estes 10 anos nos trouxeram muitas lições;
Ao chegar na África, me lembro de nossa paixão por transformar o mundo (que ainda perdura de forma mais madura), e o quanto de nós mesmos, antes de tudo, precisava sofrer uma verdadeira transformação…
Aprendemos na prática o quanto necessitávamos viver aquilo que diziamos crer: de que sem Deus NADA podemos fazer.
Aprendemos a lidar com a miséria, não somente a material, mas também aquela da alma humana sem ainda ter a oportunidade de experimentar o amor do Pai.
Vivemos situações de calamidades, ciclones, enchentes, isolamento e muita dor; lidamos com os lugares mais feios e tristes que jamais poderíamos antes imaginar…
Contudo, em cada passo desta nossa jornada, experimentamos a real e superabundante graça de Deus. Testemunhamos a luz chegar e brilhar nas escuridões…
Fomos extremamente impactados ao pisar em lugares remotos, sem a presença da igreja, sem o evangelho, sem se quer o mínimo conhecimento da existência do nome de Jesus. Sentimos o privilégio e também a imensa responsabilidade por ali estar…
Vimos paisagens pouco vistas, lugares de belezas inexplicáveis… Naturezas pouco conhecidas, nos revelando de forma majestosa a presença do criador.
Ajudamos os nossos filhos a crescer em meio aos desafios de estarmos longe de nosso país, vivendo na falta de estrutura. Vi meus filhos serem suturados na mesa de uma cozinha, na casa de um amigo; atendimentos e socorros em lugares inimagináveis. Mas também os vejo como privilegiados, pelas experiências com a provisão de Deus, por conhecer e experimentar a diversidade de culturas, de línguas, as oportunidades de servir e a consciência da real necessidade do evangelho em tantos lugares ainda.
Nesta jornada, choramos, sorrimos, erramos, acertamos, e aprendemos tanto! E ainda continuamos a aprender… especialmente sobre nossas próprias limitações e impotências. Vivemos guiados pela soberania, socorro e milagres de Deus em nossa vida, e na vida de tantos ao nosso redor….
Temos de fato entendido, cada vez mais, e de forma profunda, o significado do que é ser um PEREGRINO. E o quanto isto nos leva a assumir cada vez mais a nossa identidade de cidadãos do céu. O quanto tudo aqui neste mundo é passageiro…
Por causa da bondade do Pai, temos experimentado uma pequena porção daquilo do que Paulo dizia sobre a capacidade de contentamento, tanto no pouco, bem como no desfrutar dos momentos de fartura. A alegria de servir e de também ser servido. De dar sem esperar receber, mas receber assim mesmo… muitas vezes daqueles que materialmente tem tão pouco, mas que são tão capazes de se doar…
E de fato, a mais preciosa das lições: cada vida importa!!!
Cada indivíduo é um ser amado por nosso Pai.
Por vezes, não conseguiremos transformar o mundo, mas pela graça de Deus podemos mudar a realidade de um. E assim, um a um, cada criatura que se torna filho, levará essa luz que se multiplica e transforma comunidades para a Glória de Deus.
Jamais podemos nos esquecer de que cada indivíduo tem o direito de ter a oportunidade de escolher o caminho da verdade. Todos têm o direito de ouvir. E como como ouvirão se não há quem pregue? Todos precisam da oportunidade de Salvação; aqueles nas comunidades mais remotas da África, bem como aqueles que pensam que tudo sabem ou tudo têm. E essa é a nossa tarefa como igreja, por isso aqui perseveramos.
Não tenho palavras que consigam expressar nossa gratidão por estes 10 anos de caminhada como família, com o Senhor, aqui na África. Glorificamos a Deus pelas vidas impactadas, por ser parte desta missão, pela confiança e investimento de cada parceiro. Agradecemos a Deus pelo que Ele tem feito por meio de nós, mas acima de tudo, pelo que Ele tem feito em nós!
Valeska Petrelli