"Cumpriu a missão dele". É com este pensamento que Vicentina Fonseca Pereira tenta superar a morte do marido, José das Graças Moreira, por complicações da Covid-19. O homem tinha 68 anos e era pastor de uma igreja evangélica na Vila Marlene, em Jundiaí (SP).
Esta missão, no entanto, poderia ter sido interrompida quatro meses atrás, quando o casal saiu ileso de um acidente na Rodovia João Cereser, que destruiu o veículo. Quem viu o carro voando e capotando diversas vezes poderia imaginar que os ocupantes não sobreviveriam. Mas José, que estava dirigindo, e Vicentina, não se feriram.
O acidente foi registrado no dia 24 de fevereiro. Um motociclista colidiu contra o carro e foi parar debaixo do veículo, fazendo com que José perdesse o controle do veículo.
O carro, então, sobrevoou a mureta de concreto, indo parar do outro lado da pista. Na sequência, atingiu mais um carro que vinha no sentido contrário. Assim como os dois ocupantes do carro, o motociclista também não se feriu.
Quase quatro meses depois, José foi infectado pelo coronavírus. O pastor costumava estar sempre rodeado de pessoas, porém, quando a pandemia começou, se recolheu e respeitou a quarentena. Por isso, a família não sabe dizer ao certo como ele pode ter contraído a doença.
José ficou internado por 25 dias, após apresentar sinais de gripe e febre constante. Duas das quatro filhas do casal tiveram os mesmos sintomas, mas se recuperaram depois de alguns dias. Uma delas, Kathleen Pereira Moreira, chegou inclusive a testar positivo para o coronavírus, mas não contraiu a doença.
Inicialmente, a filha havia ido com o pai ao médico, mas, por ele estar apresentando sintomas de diarreia, o médico deu alta para ele tratar uma infecção intestinal em casa. Só que o quadro de febre voltou depois de dois dias tomando os remédios.
"Percebemos que ele estava muito cansado, mesmo deitado, parecia que tinha acabado de fazer uma caminhada. Depois disso, levei ao médico novamente", conta Kathleen.
A filha deixou o pai no hospital na madrugada do dia 14 de maio. Três horas depois, ele foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de onde não saiu mais. *G1