Casos em que crianças e adolescentes se automutilam crescem e assustam

Compartilhe:

A automutilação é um problema silencioso, que atinge muitos adolescentes no Brasil e no mundo. 20% dos jovens brasileiros se mutilam, um problema que já os afeta mais do que as drogas, e que o bullying nas escolas é um dos principais causadores desse problema. 

O Brasil não tem dados oficiais sobre o número de jovens que se automutilam. Nos corredores dos colégios e consultórios, a sensação é de aumento.Conhecer a dimensão das lesões entre adolescentes é um dos objetivos de uma lei sancionada na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). A norma prevê que escolas passem a notificar casos de automutilação a conselhos tutelares – a ideia é que a família também seja avisada, ao mesmo tempo.

"É um fenômeno. Outros países enfrentam os mesmos dilemas e, para instituir políticas públicas, precisamos de dados precisos", disse ao jornal O Estado de São Paulo a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A pasta vai articular a regulamentação da norma.
 
A escola é vista por autoridades e especialistas com um papel central na identificação dos casos – parte ocorre dentro das unidades e com objetos cortantes de uso cotidiano dos estudantes. Mas, em meio a uma série de outros desafios ligados à aprendizagem e falta de recursos, os colégios ainda precisam superar tabus e a falta de formação de seus profissionais para lidar com o tema.
 
Pesquisadora da violência nas escolas há quase 20 anos, Miriam Abramovay se assustou quando percebeu o volume de relatos sobre automutilações em um estudo em escolas públicas do Ceará e Rio Grande do Sul. Realizada em 2016 e 2017, a pesquisa incluiu o tópico pela primeira vez e ouviu grupos de jovens. "Em uma escola onde fizemos pesquisa, devolveram ao professor um kit de automutilação. Disseram que não precisavam mais, já se sentiam reconhecidos não só pela escola, como também pela sociedade."
 
"Era uma catarse, eles choravam muito", lembra Miriam, pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). "Tanto que começamos a levar caixinhas de lenço de papel", comenta.
 
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Leila Tardivo observa, além do aumento, uma mudança no perfil. "Era mais entre mulheres acima de 20 anos, pessoas com problemas psiquiátricos. Agora, acontece em pessoas mais jovens, de 12, 13, 14 anos." As meninas são maioria, mas a prática também ocorre entre os meninos.
 
Raramente há intenção de causar a morte. "Os adolescentes se machucam até para não se suicidar. Muitos dizem que a dor no braço é menor do que a tristeza", diz Leila, que, com uma equipe da USP e pesquisadores da Universidade de Sevilha, na Espanha, participa de ações preventivas em escolas públicas de São Paulo.
 
Automutilação está ligada a frustrações e depressão
 
Para ela, o contágio é pelas redes sociais – há jovens que publicam as lesões na internet e páginas que incentivam a prática – ajuda a explicar o fenômeno, mas não é a única causa. "A automutilação está ligada a frustrações, à depressão." Os casos também podem vir após violência em casa, bullying e abandono. O tratamento inclui psicoterapia e, em geral, não dura menos de um ano.
 
Em Campo Grande num grupo com dez adolescentes, entre meninos e meninas, na faixa etária de 14 e 17 anos, reunido perto de lanchonete fast food na avenida Afonso Pena, o tema primeiro é recebido com risadas. Mas, não demora para que uma estudante mande a real. “75% da minha sala de aula se corta”, diz a garota.
 
A automutilação ganha narrativa na voz de um estudante de 16 anos. “Me sentia muito sozinho, estava passando por problemas pessoais. As pessoas dizem que é uma dor mais fácil de lidar”, diz. Os cortes foram no punho e em três ocasiões. “Fui flagrado pela minha mãe, que me chamou para conversar. Faz dois meses que não me corto mais”, diz o rapaz, que estica o braço e, sobre uma marca recente, conta que foi o machucado foi feito por um gato.
 
A interrogação também ecoa entre professores e pais – que fazem parte de uma geração em que essa prática era menos comum. "Fiquei desesperada porque nunca imaginei que existisse isso", conta Laís, de 37 anos, alertada pelo colégio de que o filho, aos 14, estava machucando os pulsos. Após terapia e o olhar atento da mãe, as lesões cessaram.
 
Preste atenção:
 
1. Feridas. A automutilação tem se tornado mais comum, mas não deve ser banalizada. Ela pode indicar dificuldades emocionais.
 
2. Comportamento. Fique atento a mudanças de humor e isolamento. O uso de mangas compridas no calor pode indicar uma tentativa de esconder lesões.
 
3. Apoio. Caso identifique a situação, acolha o adolescente, escute os motivos e evite repreendê-lo. Procure ajuda profissional.
 
Conheça os projetos e saiba onde buscar ajuda:
 
Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
 
 
Conselho Tutelar de Campo Grande atende em três endereços:
 
Conselho Tutelar Norte
Rua São João Bosco, n° 49, bairro: Monte Castelo
Telefone: (067) 3314-6366 / 3314-6371
Horário de atendimento: 7h30 às 17h30
Plantão: sábado e domingo 24 hs
 
Conselho Tutelar Sul
Rua Arquiteto Vilanova Artigas S/Nº – Esq. Com Rua Carlos Drummond De Andrade, bairro: Aero Rancho
Telefone: (067)  3314-6367 / 3314-6370
Horário de atendimento: 7h30 às 17h30
Plantão: sábado e domingo 24 hs
 
Conselho Tutelar Centro
Rua Coronel Sebastião Lima, 1297, bairro: Jardim São Bento
Telefone: (067) 3314-4337 / 3313-5027
Horário de atendimento: 7h30 às 17h30
Plantão: sábado e domingo 24 hs