Leonardo Gonçalves fala sobre pausa na carreia em entrevista

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Foi com surpresa que os 1,3 milhões de seguidores de Leonardo Gonçalves no Facebook receberam a notícia, na tarde da última sexta-feira, que o cantor e compositor da música gospel nacional planeja uma pausa na carreira.

A boa fase do cantor o colocou em destaque nacional, o que causou um desconforto no que diz respeito ao aumento da fama o que deu um empurrão na decisão da pausa. Em entrevista ao site da Veja, Leonardo fala sobre as dificuldades de lidar com o excesso de exposição, o mercado da música gospel e afirma que, por enquanto, não tem planos de voltar ao período sabático.

A notícia da pausa veio junto com a divulgação de um turnê de despedida, feita em teatros pelo Brasil, com repertório do seu disco/DVD Principio. Por que a decisão da pausa neste momento já que esta trabalho foi tão bem recebido?

No total, tenho 22 anos de carreira. E estou bem cansado, especialmente  da exposição que eu não esperava. Comecei a cantar quando vim para o Brasil em 1994, e logo já estava viajando pelo país com um grupo. O primeiro disco solo veio em 2002. Não quero soar ingrato, mas meu projeto de vida nunca foi ser cantor. Sou um pessoa muito reservada, tem a ver com a minha persoalidade.

Quais os seus projetos antes de ser cantor e que o faz mudar o rumo?

Sai do Brasil quando tinha 2 anos e morei na Alemanha até os 15 anos. Eu era muito interessado em linguística, tradução e leitura. Pra mim, escrever veio primeiro. Com sete anos escrevi o meu primeiro conto. Minha família decidiu voltar pro Brasil, mas como estava distante a tanto tempo, meu português era muiro rudimentar. Então, ao auge da adolescência, quando você já não sabe muito bem quem é, eu perdio minha referência que era a linguagem, eu não conseguia me comunicar.foi nesse contexto que eu descobri a música, o cantar. E isso foi me realizando. A experiência da música enriquece muito a minha vida espiritual. E fiz um trato com Deus que ia cantar enquanto Ele quisesse que eu cantasse. Ao mesmo tempo, fiz Letra na Unicamp, pois ainda planejava seguir carreia acadêmica. Queria ser escritor e professor.

Mas como a exposição tornou  um problema na sua vida?

A cultura do selfi é algo que me incomoda profundamente, por razões diversas. Demorei dez anos para gravar o DVD e atrasei ao máximo o lançamento. Me deu aflição por razões inexplicáveis. Sei que a gente vive no mundo da imagem. Mas me incomoda o fato de que hoje a gente vê música, não ouve.

A fama não tem sido uma boa experiência?

Não me considero famoso.

Isso não muda o fato de você ser tão conhecido, especialmente para um nicho que tem crescido no Brasil.

Sim, não quero desprezar, mas pra mim famoso de verdade é a Britney Spears e os cem paparazzi atrás dela o tempo todo (risos). O meu conceito de fama é esse. Eu sempre fui o menino nerd da turma. Tirava boas notas e apanhava dos outros garotos na escola, pelo menos duas vezes na semana(risos). Vivia lendo e não tinha amigos. Era muito pequeno, estrangeiro…foi uma série de coisas que ajudou a definir quem eu sou, minha personalidade.

Mas ao mesmo tempo em que não gosta de exposição, você se expõe em shows, atendimento aos fãs, programas de TV. Não prefere colocar limites?

É contraditório mesmo, eu sei, mas já coloco bastante limites. Apesar de não gostar, sei que a exposição é necessária, porque acredito que a mensagem é relevante. E não tem jeito de levar essa mensagem sem se expor. Não é a exposição da arte que me incomoda, é a cultura do selfie, quando a arte fica em segundo plano.

Ainda planeja ser escritor?

 Está na agenda escrever um livro, mas, se fizer isso, dificilmente vou lançar com meu nome. Adoraria escrever uma fantasia. Sou fã de escritos como George R.R Martin e J.R.R. Tolkien.

O mercado da música gospel cresceu muito, o que movimenta uma série de críticas de diversos lados, religiosos ou não. O que acha disso?

Não gosto do preconceito que aponta que algo é ruim só no meio religioso. O que é ruim é ruim. Não é mais ou menos nocivo. A hipocrisia é ruim em qualquer lugar. O egocentrismo é ruim, ponto. Mina expectativa em relação ao ser humano é que ele seja humano, crendo ou não em Deus. Não segmento a música entre religiosa ou não. Porém a carreira artística cristã envolve outras coisas no imaginário do público. E isso é intensificado com as redes sociais. Eu acredito que Deus não criou nenhum ser humano para ser famaso, para parecer mais importe que o outro. Somos todos iguais. A gente vive em um mundo de tantos ruídos e críticas, que, sinceramente, minha opinião não importa. O que eu tenho a dizer eu digo através da minha arte. Só porque tenho seguidores no Facebook, preciso dar opinião em tudo? Manter sanidade nos dias de hoje não é fácil. A tentação de ser hipócrita é diária. De falar o que as pessoas querem ouvir.

No passado, sua vida pessoal, especialmente a separação, foi assunto entre sites especializados em fofocas sobre celebridades gospel.

Pois é, esse tipo de site existe(risos). Eu vi isso, e dizer que não me incomoda seria mentira. O que mais incomoda são as conclusões que se chegam. Mas eu entendo, pois sou uma pessoa muito reservada, não falo da vida particular. Não tenho nada a esconder, mas com as redes sociais as pessoas perderam a noção da espera pública da privada.

O que planeja para o futuro?

Já tinha combinado com a gravadora entregar este ano a turnê e também um EP ao vivo, acústico. Vamos documentar os shows depois veremos o que fazer com o material. Também vou lançar um selo este ano, com alguns jovens artistas do meio. Quero viabilizar a carreira deles para que caminhem sozinhos. No fundo, tenho esse desejo de passar o bastão. Vou trabalhar bastante esse ano, e no próximo fico fora. Não sei se volto.

Para onde vai?

Ainda não decidi para onde ir. Estou considerando um projeto de voluntariado, talvez no Oriente Médio, na Ásia. Estou sondando alguns lugares. Outro plano é ficar um ano em Israel para estudar hebraico. Sei que não quero trabalhar com música. Meu sonho seria dar aula de inglês para crianças refugiadas na Palestina de dia e a noite estudar hebraico em Jerusalém(risos) Não sei se isso existe, mas seria perfeito.

Fonte: VEJA