Uma campanha promovida na rede social pede aos evangélicos, boicote á novela “Meu Pedacinho de Chão”, exibida ás 18h pela Rede Globo. Em um post do Facebook, a usuária Dayhendra Alves, enumera várias referências feitas com relação ao enredo e ás personagens á umbanda, uma religião afro. Mas a polêmica envolvendo novelas não é novidade. Líderes religiosos também haviam pedido para os cristãos não assistirem á novela das 20h, “Salve Jorge” (2012) por fazer referência a um santo católico. Até mesmo o canal infantil criado no Youtube “Galinha Pintadinha” virou polêmica pela afirmação de conter mensagens subliminares. Produções mais antigas como o filme Godzilla- cujo remake será lançado em breve no Brasil- e desenhos da década de 80, a exemplo de “Caverna do Dragão”, passam pelo mesmo estigma.
Para o mestre em comunicação social pela Universidade Metodista e doutorando em Historia pela Universidade Federal da Grande Dourados, André Giuliani Mazini, os cristãos desde o século XX tem a tendência de demonizar muitos produtos culturais.
A novela como qualquer tipo de filme, música ou melodia são produtos culturais e nem todos têm o objetivo de instruir ou deixar as pessoas mais inteligentes ou de oferecer uma análise sofisticada da realidade. Grande parte dos produtos culturais, chamados de “cultura de massa”, veiculados nas grandes mídias, tem como fim o entretenimento. “Assim como muitas músicas gospel também são feitas para entreter e tem muito pouco de Palavra e de mensagem, é a mesma perspectiva”, defende o professor.
Considerar assistir uma novela ou qualquer outro tipo de produto cultural como abrir a porta de casa para o inimigo entrar, na avaliação de Mazini, inferioriza a própria fé e o próprio Deus. “É você não conhecer a Deus, por que se a gente acredita que o nosso Deus é o Todo Poderoso, o nosso Deus é o criador, o nosso Deus é o mais sábio seria incoerência da nossa parte achar que ao ligar uma TV ou estar diante de um produto cultural, isso vai abrir a porta da minha casa para qualquer tipo de maldição. Nosso Deus é maior do que isso” acredita o estudioso mesmo que o entretenimento tenha qualquer relação ou de fato, tenha sido influenciado por religiões afro. Outro erro, aponta o professor André Mazini, é avaliar o povo cristão como altamente influenciável por mensagens subliminares ou conteúdos misteriosos. Para ele, assistir uma novela com cenas de casais homoafetivos, por exemplo, não muda o comportamento de ninguém. Há muito alarde sobre os produtos culturais e pouco efeito prático.
Por fim, o cristão André Mazini, diz que a igreja tem se preocupado com temas irrelevantes, ligados a moral e aos costumes e dedica-se pouco ás questões sociais. “Por exemplo, tráfico de seres humanos, a questão das drogas (…) eu vejo a igreja se mobilizar pouco contra a corrupção, a nossa igreja tem perdido muito tempo com picuinha, com assuntos, completamente superficiais”.